Os tratamentos de reprodução assistida são considerados padrão para infertilidade, feminina ou masculina. Evoluíram bastante nas últimas décadas, desde que se tornaram conhecidos popularmente em 1978, quando nasceu o primeiro bebê concebido artificialmente.
Atualmente, além de serem mais acessíveis, diferentes recursos foram desenvolvidos com o avanço tecnológico, proporcionando a solução de diferentes problemas que podem impedir a gravidez.
Um bom exemplo são as ferramentas moleculares, como o teste genético pré-implantacional (PGT) e o teste ERA, que utilizam a tecnologia NGS para o sequenciamento de diferentes tipos de genes.
O PGT analisa as células dos embriões em blastocisto, quando ele está entre o quinto e sexto dia de desenvolvimento, possibilitando a detecção de distúrbios genéticos, evitando, assim, que sejam transmitidos para os filhos. Já o ERA, analisa os genes do endométrio, proporcionando a definição do momento mais receptivo para transferir o embrião, minimizando, assim, falhas.
Avanços nas tecnologias laboratoriais e nos meios de cultura também foram importantes. No entanto, uma das principais conquistas foi a ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides), incorporada à FIV em 1992.
Continue a leitura deste texto até o final e veja como a ICSI é feita na FIV.
O que é FIV?
Fertilização in vitro ou FIV é a principal e mais avançada técnica de reprodução assistida.
Inicialmente desenvolvida para solucionar problemas de obstruções tubárias, se tornou conhecida após o nascimento de Louise Brown, primeiro bebê concebido com a sua utilização.
Na ocasião foi amplamente divulgada pela mídia, no cinema e na literatura como ”revolução da vida no século XX” por proporcionar a fecundação de forma artificial, em laboratório, e a transferência do embrião para o útero materno. Possibilidade até então cogitada apenas em livros e roteiros de ficção científica.
Se a FIV já nasceu com ares futuristas, hoje evolui muito mais, e continua em crescimento,
proporcionando, anualmente, o nascimento de milhares de crianças no mundo todo.
A ICSI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides) foi um grande marco nesse avanço
ao permitir o tratamento de infertilidade masculina por fatores mais graves, até a sua introdução considerados sem solução.
Para se ter uma ideia, sabe-se, hoje, que os fatores de infertilidade masculina representam
pelo menos a metade dos problemas de fertilidade de um casal, anteriormente atribuídos apenas às mulheres.
Por outro lado, o método utilizado pela ICSI, aumentou consideravelmente as chances de a
fecundação ser bem-sucedida, o que significa que mais embriões de boa qualidade podem ser formados, contribuindo para os altos percentuais de sucesso registrados pela técnica
atualmente.
O tratamento por FIV é realizado em cinco diferentes etapas, da seleção dos melhores
gametas à transferência do embrião para o útero materno. O especialista em reprodução
assistida, não apenas acompanha cada uma delas, mas também tem maior controle sobre
cada procedimento.
As principais etapas da FIV com ICSI são:
Estimulação ovariana e indução da ovulação: nesse procedimento são administrados medicamentos hormonais sintéticos semelhantes ao produzidos pelo organismo para estimular o desenvolvimento e amadurecimento de mais folículos
(bolsas que contém o óvulo primário), obtendo, dessa forma, mais óvulos para a fecundação;
Punção folicular e preparo seminal: os folículos maduros são coletados por punção
folicular, procedimento em que são individualmente aspirados. Após a coleta os óvulos
são extraídos em laboratório, quando os melhores são selecionados. Simultaneamente,
também são escolhidos os espermatozoides mais saudáveis por técnicas de preparo
seminal;
Fecundação: a fecundação é realizada em laboratório. Na FIV clássica, óvulos e
espermatozoides são colocados juntos em uma placa de cultura para que o processo
de fusão aconteça naturalmente. Ou seja, cada espermatozoide deve ligar-se à
camada externa de um óvulo empurrando-a para o citoplasma, substância gelatinosa
presente no interior da célula onde a fecundação acontece;
Cultivo embrionário: os embriões formados pela fecundação podem ser cultivados
por até seis dias em laboratório. O desenvolvimento embrionário é acompanhado
diariamente, possibilitando, dessa forma, definir a etapa mais adequada para transferi-
los, de acordo com as necessidades de cada paciente;
Transferência do embrião: os embriões podem ser transferidos em duas etapas de
desenvolvimento, D3 ou blastocisto. No primeiro caso, ainda possui poucas células, em divisão, enquanto no segundo, as células já estão formadas e divididas por função: o
trofoblasto contribui para a formação da placenta e o embrioblasto, para a formação
final do embrião, que implanta no endométrio e passa a ser considerado feto a partir
da 10ª semana de gestação.
Apesar de a FIV clássica ter proporcionado bons resultados durante muito tempo, alterações na estrutura do espermatozoide (forma e movimento) e, nos óvulos, como a camada externa mais espessa, podem impedir ou dificultar a fecundação, resultando, dessa forma, em um pequeno número de óvulos fecundado.
Por isso, a FIV com ICSI tem sido o método mais adotado pelas clínicas de reprodução
assistida do mundo todo.
Veja como a ICSI é feita
Na ICSI, mesmo que os melhores espermatozoides tenham sido previamente selecionados por técnicas de preparo seminal, são novamente avaliados individualmente, em movimento, por um microscópio de alta magnificação.
Depois de ter a saúde confirmada é injetado diretamente no citoplasma do óvulo pelo
micromanipulador de gametas, um aparelho de precisão acoplado ao microscópio.
O método possibilita, portanto, contornar diferentes problemas de infertilidade masculinos e femininos.
É fundamental, por exemplo, se houver alterações na estrutura dos espermatozoides
dificultando a fusão com o óvulo ou para mulheres acima dos 36 anos, quando geralmente a zona pelúcida, camada de glicoproteínas que protege o óvulo é mais densa, tornando a
penetração do espermatozoide igualmente mais difícil.
Além disso, beneficia homens que sofrem com a baixa concentração de espermatozoide no sêmen ou com a ausência deles, condições respectivamente conhecidas como oligozoospermia e azoospermia.
Com a utilização de diferentes métodos cirúrgicos minimamente invasivos os espermatozoide são recuperados diretamente dos túbulos seminíferos, onde são produzidos nos testículos, ou dos epidídimos, dutos que os armazenam após a produção até se tornarem maduros.
Os espermatozoides recuperados também são submetidos ao preparo seminal, avaliados
individualmente e posteriormente injetados no citoplasma de cada óvulo.
Assim, desde o seu desenvolvimento, a FIV tornou-se o principal recurso para ajudar milhões de pessoas no mundo todo a realizarem o sonho de ter filhos.
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