Congelamento de óvulos é uma técnica na reprodução assistida que permite às mulheres terem maiores chances de engravidar no futuro. Por vários motivos, o número de interessadas na técnica nos últimos anos tem aumentado. Isso tem acontecido mesmo durante a pandemia de Covid-19, inclusive.
“Eu já tenho percebido isso, na verdade, de uns três quatro anos para cá. Não só aqui, mas no Brasil e fora do Brasil também”, disse o Dr. Gustavo de Mendonça Borges (CRM/SP 94.121). Ele é especialista em Reprodução Humana e integra a equipe do CRHP.
Em sua vivência de consultório, Borges tem observado dois fatores que vem motivando esse aumento. O primeiro deles, é a facilidade do tratamento. O segundo, a melhora nos resultados. Esse último, impulsionado pelo avanço da medicina reprodutiva.
“O tratamento, nos últimos anos, acabou simplificando bastante. Isso, no sentido de que a dose de medicamento que a paciente precisa usar e os efeitos colaterais dele, diminuíram muito. Então, hoje é mais simples e mais rápido realizar. Antes, nós tínhamos que utilizar, às vezes, duas, três semanas de medicamento. Hoje, com 10, 11 dias de tratamento nós resolvemos, com poucos efeitos colaterais”, diz.
O que também melhorou, segundo o especialista, foi o congelamento. Antes não se tinha capacidade de manter a qualidade dos óvulos. Com isso, ela piorava muito. Sendo assim, era muito mais difícil garantir que os óvulos estariam bons quando a paciente resolvesse usar.
“De dez anos para cá, com as técnicas novas de congelamento, melhorou os resultados da sobrevivência dos óvulos ao congelamento. Então, isso estimulou as mulheres a fazerem o tratamento”.
Entre o sonho de ser mãe e a carreira
O aumento de mulheres buscando o congelamento de óvulos, considerando esse período de 3 anos até aqui, foi de cerca de 50%. “De 30 a 60% em média. Trinta e cinco a 40% de aumento de procura dessas mulheres que querem preservar a fertilidade”, adiciona Borges.
A maior procura pela técnica, também está relaciona com o fato de mulheres, das classes média e alta principalmente, demorarem mais para ter filhos. Isso acontece porque elas querem investir na carreira, na formação acadêmica ou buscam estabilização econômica.
Consequentemente, no entanto, há um número crescente de casais inférteis. E as técnicas de reprodução, cada vez mais difundidas, acabam sendo, portanto, uma alternativa. Com isso, elas não têm a preocupação de, de repente, ter que acelerar o momento da gravidez pelo fato de estarem ficando mais velhas. Esse público é composto por mulheres entre 30 e 35 anos.
“A mulher que já está chegando perto dos 35 anos e não tem perspectiva do momento que ela vai poder engravidar. Esse é o público principal. O outro é a paciente com câncer, tem diagnóstico de algum tipo de tumor e que vai ter que ser submetida a quimioterapia. Nós sabemos que a quimioterapia pode deixar algumas mulheres estéreis. Então, você corre, em três semanas faz o tratamento e congela alguns óvulos [para uma tentativa de gravidez quando ela estiver curada] “.
Efeito pandemia
Uma curiosidade é que mesmo com a covid-19, aumentou o número de casais que buscam o tratamento de reprodução. Isso, inclusive, foi tema de discussão em cursos relacionados ao assunto e em lives de especialistas nas redes sociais.
“Todos os Centros de Reprodução Humana têm observado esse aumento do interesse. Nós imaginamos que há dois fatores principais. Primeiro, que as pessoas não estão viajando, não estão gastando, não estão saindo tanto. Aqueles que conseguiram continuar trabalhando, de alguma maneira, estão economizando e acabam direcionando isso… Quem já havia se planejando para fazer reprodução, acabou acelerando esse plano. E há também, pessoas que tiveram que mudar seus planos de trabalho, de carreira, e acabaram investindo na gravidez agora e não mais adiante”.
Como é feito o congelamento de óvulos?
O procedimento começa com uma avaliação hormonal bem detalhada para entender como está o funcionamento dos ovários. Em seguida, se faz um estudo deles com exame de imagem, geralmente a ultrassonografia. Assim, é possível escolher o tipo de medicamento e a dose para uma boa resposta do organismo, ou seja, uma boa quantidade de óvulos.
“Quando a mulher menstrua, no segundo dia do ciclo, ela começa a tomar os medicamentos. São medicamentos injetáveis, que ela vai tomar de 10 a 12 dias. Varia um pouquinho de mulher para mulher, mas não sai disso (de nove a 12 dias). Nesse período, ela vai comparecer na clínica a cada 3 dias para nós acompanharmos o crescimento dos folículos. Próximo do 14.º dia do ciclo, ela irá retirar os óvulos”, explica o médico.
Essa retirada é feita na clínica, com sedação. Uma agulha aspira os folículos, retirando os óvulos. A paciente precisa ficar neste dia, cerca de duas horas em observação. Depois, ela pode ser liberada para ir para a casa. Portanto, o único momento que ela precisa se afastar das suas atividades, como o trabalho, é nesse momento do tratamento.
Quantos óvulos são congelados?
Os óvulos são preparados e congelados no mesmo dia, cerca de 3 horas após a coleta. A técnica utilizada chama-se vitrificação oocitária. A resposta da indução ovariana, vai variar muito de paciente para paciente. Pode ser, por exemplo, de 2 a 3 óvulos, até perto de 20. O ideal é que a paciente congele, pelo menos, oito.
“Não é garantia que ela vá ficar grávida, mas tem uma boa chance. Mais da metade delas consegue gravidez tendo pelo menos oito óvulos congelados. Se é feita a indução, e não há um bom número de óvulos, você espera a paciente menstruar e, no mês seguinte, tenta fazer de novo”.
Não há um tempo mínimo para o material ficar congelado. No mês seguinte, a paciente pode, portanto, usá-los. Segundo o especialista, existem gravidezes com óvulos congelados há mais de 10, 20 anos. Cerca de 90% dos óvulos resistem ao congelamento. Alguns, entretanto, se degeneram no processo.
Porque o congelamento não é uma garantia de gravidez?
As taxas de gravidez com reprodução humana entre pacientes que congelam até os 35 anos, variam de 40 a 60%. No entanto, mulheres de 40 anos que resolvem congelar, têm uma taxa de gravidez que não chega a 15%.
A taxa média dos Centros de Reprodução, considerando todas as idades, fica perto de 40%. Isso significa que, de cada 10 mulheres que fazem a fertilização, só quatro conseguem engravidar.
“Apesar de não chegar a metade, tendo ela oito óvulos, se tiver pelo menos cinco embriões, vai ter pelo menos duas tentativas de gravidez. Com duas tentativas, vai ter um pouco mais de 50% de chance de gravidez. Ela tem que pensar isso: mantém-se uma chance maior de gravidez com os óvulos congelados, mas jamais será uma garantia dela”, pontua o médico.
A recomendação é que o congelamento aconteça até os 35 anos, pois quanto mais cedo for feito, melhor.
Como é feita fertilização in vitro (FIV)?
Quem opta pelo congelamento terá que realizar a FIV quando desejar engravidar. Nesse procedimento, os óvulos são descongelados e fertilizados no laboratório. Para isso são usados os espermatozoides do parceiro – se for um casal heterossexual – ou de doador anônimo no caso dos homoafetivos e de gravidez independente.
Após isso, os embriões são transferidos para o útero da mulher. Este procedimento se faz com um cateter delicado e guiado por ultrassom. O teste de gravidez ocorre de 10 a 12 dias após a transferência embrionária.
Os óvulos não utilizados ficam congelados e, se algum dia a paciente perder o interesse por eles, pode doá-los para alguma outra mulher. Fazendo assim, uma ovodoação ou, ainda, descartá-los.
O Centro de Reprodução Humana de Piracicaba está instalado no Hospital Santa Isabel, graças a uma parceria com a Santa Casa de Piracicaba.
Jornalista responsável: Arlete Maria Antunes de Moraes. MTB 0084412/SP.
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